Reconhecimento facial: prós e contras da tecnologia que veio para ficar

blog-post-image

04/08/2021

por Marilia Marasciulo

“Sempre aqueles olhos observando a pessoa e a voz a envolvê-la. Dormindo ou acordado, trabalhando ou comendo, dentro ou fora de casa, no banho ou na cama — não havia saída”, escreveu George Orwell no livro 1984, que completou 71 anos no último dia 8 de junho. Em 2020, talvez não estejamos exatamente no mundo distópico do Big Brother criado pelo escritor inglês, mas nunca corremos tanto risco de nos aproximarmos dele.

Um mapeamento da Surfshark, empresa que desenvolve ferramentas de proteção de privacidade na internet, revela que 98 países atualmente usam tecnologias de reconhecimento facial em algum tipo de vigilância pública. Divulgado em maio, o levantamento foi feito baseado em dados de 194 países e aponta que, além dos que já utilizam, 12 aprovam, mas ainda não implementaram esse tipo de tecnologia; 13 consideram aplicá-la; 68 não usam e três a proíbem.

Criada nos anos 1960, a tecnologia que usa computadores e algoritmos para reconhecer rostos humanos ganhou escala há pelo menos uma década, muito graças ao avanço das redes sociais e da internet. Com milhares de pessoas disponibilizando voluntariamente suas fotos na internet, existe hoje um banco de dados com bilhões de imagens que servem para treinar redes de inteligência artificial a detectar e reconhecer rostos.

As possibilidades são inúmeras, e você certamente já se deparou com alguma delas no dia a dia — segundo o levantamento da Surfshark, 92% dos países na América do Sul usam reconhecimento facial, a maior porcentagem entre os continentes. Do seu filtro favorito no Instagram ao desbloqueio de celulares, até a identificação em aeroportos (o Brasil está entre os países que têm um sistema automatizado de leitura de passaportes), o reconhecimento facial é usado em algum nível. Há também casos mais “avançados”, como o do homem chinês que foi sequestrado quando criança e, graças à tecnologia de reconhecimento facial utilizada nas buscas, reencontrou os pais depois de 32 anos; ou do carnaval de Salvador de 2020, no qual câmeras de segurança identificaram e ajudaram a capturar 42 foragidos da Justiça.

“Passamos de uma fase de detecção, que era o que tínhamos com as câmeras digitais antigas que viam um sorriso e tiravam a foto, para a de reconhecimento propriamente dito, de saber de quem é aquele rosto”, explica o especialista em tecnologias emergentes Diogo Cortiz, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Isso está muito atrelado à inteligência artificial aplicada ao processamento e tratamento de imagens.”

Adeus, privacidade
Na pandemia do novo coronavírus, nem os rostos mascarados frearam o avanço da tecnologia — pelo contrário: países como China e Rússia apostaram nela para rastrear pessoas que “furaram” a quarentena, e começaram a treinar os algoritmos para identificar indivíduos potencialmente infectados com base na temperatura corporal. As ferramentas também têm sido apontadas como alternativas que não exigem contato físico para a autenticação e identificação em um mundo que busca medidas para frear o contágio.